22.07.2018 |
No dia 22 de julho celebra-se o Dia Mundial do Cérebro, instituído pela World Federation of Neurology (WFN), tendo como tema central CLEAN AIR FOR HEALTHY BRAIN.
Ao escolher este tema para sua bandeira anual pretende a WFN chamar a atenção, da classe política e da sociedade em geral, para a necessidade de melhorar a qualidade do ar de modo a diminuir o número de doenças diretamente relacionadas com a sua poluição. Temos assistido, em todo o mundo, a campanhas e manifestações dirigidas à proteção do meio ambiente e a iniciativas políticas no âmbito das Nações Unidas. Foi com esse objetivo, e sob o patrocínio desta organização, que se realizou, em 1972, a Conferência de Estocolmo, seguida da Cimeira da Terra (Rio de Janeiro, 1992), e da assinatura do Protocolo de Quioto (1997). Estas iniciativas conduziram, finalmente, à assinatura do Acordo de Paris, em 2015, sobre alterações climáticas, tendo em vista, fundamentalmente, a redução do aquecimento global. Infelizmente, o atual Presidente dos EUA veio confirmar oficialmente a sua decisão de abandonar este acordo, assinado pelo seu antecessor, pondo em causa todos os esforços realizados e os avanços alcançados neste domínio, dado que os EUA constituíam um dos principais subscritores deste documento.
É neste contexto que a campanha inspirada pela WFN, dirigida essencialmente à proteção do ar que respiramos, tem um interesse acrescido. É conhecida a importância da qualidade do ar para a saúde das populações. No que respeita ao cérebro, essa qualidade é, também, essencial para o seu desenvolvimento equilibrado e saudável. A poluição atmosférica é, na verdade, a principal responsável por um elevado número de doenças com altas taxas de morbilidade e mortalidade, não só no que respeita, particularmente, ao pulmão, coração e cérebro, como também à doença oncológica. Estima-se em 12 milhões o número de mortes atribuídas anualmente à poluição do ar, a maioria devida a AVC ou doenças degenerativas do cérebro, a enfarte do miocárdio ou insuficiência cardíaca, a doenças pulmonares e a doenças oncológicas. Sabe-se hoje que 90% da população mundial vive em ambientes em que esta poluição é uma fatal realidade, atingindo, em zonas de todos bem conhecidas, níveis verdadeiramente assustadores. A poluição é provocada essencialmente pela contaminação do meio ambiente por tóxicos biológicos ou químicos, resultantes de processos naturais ou da mão humana. À cabeça destes poluentes estão o dióxido de carbono e o metano que, embora possam surgir na atmosfera por processos naturais, nomeadamente, em primeira instância, pela respiração dos seres vivos e fontes naturais ou decomposição de resíduos orgânicos, são, em segunda instância, fruto óbvio da produção humana, particularmente na indústria e na agricultura. Lembremos os combustíveis fósseis que utilizamos diariamente à escala global, a produção industrial que nos cerca e que é essencial ao nosso dia a dia, e o abate progressivo e abusivo das florestas que os incêndios tendem a agravar, não escamoteando o nosso contributo diário, enquanto consumidores, para este problema. Enquanto seres responsáveis pela saúde e pelo futuro do planeta somos interpelados por estes factos que nos devem obrigar a uma séria reflexão e à modificação dos hábitos de vida que contribuem decisivamente para a deterioração do meio ambiente. Até porque esta poluição está presente no nosso ambiente de trabalho, na nossa casa, na nossa vida. Esta iniciativa da WFN – “Ar limpo para um Cérebro saudável” – deve ser abraçada por todos nós. Para bem do Cérebro e do planeta Terra.
António Freire
(Presidente do CPC)